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PRAÇA SÃO PEDRO É POINT DA CIDADE MAIS FREQUENTADO |
MORADORES NA RUA DO OLHO DÁGUA |
MORADORES NA AVENIDA TRANCREDO NEVES DE FRENTE A ANTIGA PALHOÇA |
MORADOR NA RUA OLHO DÁGUA |
FOTOS RARAS: UM DOS PRIMEIROS TIME DE FUTEBOL DE SÃO PEDRO |
O ESPORTE SEMPRE FOI UM PONTO FORTE EM SÃO PEDRO- FOTO DO TIME SELEÇÃO DOS AMIGOS EM 2001 |
ESTAÇÃO DE TREM EM MARÇO DE 1993 |
CARNE DE SOL NO PARÁ, LOCAL ONDE É ENTRADA PARA QUEM VAI PARA SÃO PEDRO |
ALGUNS MORADORES DE SÃO PEDRO TRABALHAM DE MOTO TAXI E TAXISTAS, TRANSPORTANDO PESSOAS DA CARNE DE SOL PARA SÃO PEDRO. |
JORNALISTA LÚCIO FLAVIO PINTO (JORNAIS: O Liberal e O Estado de S. Paulo), QUE VEIO COBRIR TODOS OS CONFLITOS NA REGIÃO NORTE, NA FOTO LAVRADORES MOSTRAM AS TERRAS PARA ELE, DECLARANDO A CAUSA DE TANTOS CONFLITOS SER A LUTA POR AQUELE TERRITÓRIO, LOCAL ONDE DEU ORIGEM Á SÃO PEDRO. Link da pagina do jornalista com relatos do que viu durante aqueles dias. São Pedro, a onça e euPUBLICADO POR LÚCIO FLÁVIO PINTO ⋅ 7 DE NOVEMBRO DE 2021(Artigo publicado em dezembro de 2014 no Jornal Pessoal) Eu tinha 26 anos quando posei, um tanto nervoso, para a foto [de 1976, na qual estou dando a mamadeira a uma enorme onça, presa a uma corrente espaçosa, na beira da Belém-Brasília, quase na divisa com o Maranhão]. Dois dias antes, um domingo, eu sintonizara o rádio numa emissora de Belém enquanto escrevia um texto para O Estado de S. Paulo, do qual era correspondente. Só percebi a história quando ela já ia relatada pelo meio. O que me chamou a atenção foi uma expressão muito familiar, tanto então quanto hoje: conflito de terra. Houvera tiroteio e choques armados num lugar chamado São Pedro da Água Branca, na zona de contestado entre o Pará e o Maranhão, no vale do rio Gurupi. Era o tipo de
história que eu não podia perder. Vivia-se em plena ditadura, mas, de forma
paradoxal, a censura tolerava matérias mais fortes sobre a fronteira amazônica.
Não havia hegemonia sobre a questão. Os próprios militares se dividiam na
avaliação do que o governo federal estava fazendo na região, que tanta
sensibilidade causava aos ideólogos castrenses. Era a maneira de falar do
modelo econômico por uma das suas partes mais expressivas, evitando o corte
drástico dos Torquemadas. Como ainda não
havia o Google (nem computadores acessíveis aos mortais), passei a manhã de
segunda ao telefone atrás de informações sobre São Pedro. Fosse o que fosse, a
localidade era desconhecida. Mas achei que valia a pena ir até lá. São Paulo
aprovou a pauta que fiz. Consegui convencer Cláudio Leal, o diretor de redação
de O Liberal, a ceder carro, motorista e fotógrafo. Garanti que voltaria com
uma boa matéria. Precisava dessa
companhia por todos os motivos. Temendo deparar com muitos problemas, queria
chegar ao local do conflito identificado como jornalista pelo carro do jornal.
Mais dois companheiros de jornada também serviriam para inibir alguma atitude
mais agressiva. E, naturalmente, contar com um fotógrafo me liberaria para o
trabalho de repórter. Pegamos a
Belém-Brasília, ainda precária naquele ano de 1977. Perto da divisa com o
Maranhão havia essa atração: o dono do lugar mantinha uma onça na corrente,
atada a um poste de madeira, para posar para fotos se alguém quisesse se dispor
a dar de mamar ao animal, saudável, de porte amedrontador. Felizmente topei
descer do fusca. Foi um bom ensaio de preparação para o que viria. A onça se
comportou muito bem. Tomou todo o conteúdo da mamadeira sem ensaiar qualquer
reação hostil. Eu torcia para que ela fosse gulosa, como era, imaginando se não
podia se irritar ou querer cobrar mais alimento com uma patada. Como se pode
constatar, havia corrente em extensão suficiente para ela investir contra mim.
Enquanto as gotas saíam da mamadeira eu refazia uma pergunta que me fiz tantas
vezes, antes e depois, nas incursões jornalísticas ao chamado hinterland: por que
estou aqui? PM vs. PM Prosseguimos até
Imperatriz, onde dormimos. Um oficial da Polícia Militar maranhense indicou
onde ficava São Pedro – para ele, em domínios maranhenses. Apesar de o governo
do Pará não concordar, foi por causa dessa convicção que o governo do Maranhão
decidiu mandar uma tropa da PM para proteger os cidadãos maranhenses, que
estavam sendo atacados por paraenses, desejos de se apossar de território
gonçalvino. De manhã cedo
voltamos pela Belém-Brasília até a estrada que, a partir dela, seguia para
Marabá. Era a PA-70, depois 150 e, agora, BR-222. No quilômetro 30 ia-se para a
esquerda. Quando entramos no ramal os passageiros de uma camionete que vinha em
sentido contrário nos pararam. Quem dirigia era Jackson de Mendonça, o maior
grileiro da área, que eu já conhecia de (má) fama. Ele apresentou
seu acompanhante como um agente do SNI, o temido Serviço Nacional de
Informações. Segundo o secreta, o povoado fora tomado por guerrilheiros, que
estavam entricheirados na mata e atacavam quem ousasse entrar. Mostrou-me furos
na camionete como provas de balas que tinham atirado. Nem a PM do Pará
conseguira expulsar os guerrilheiros. Aconselhou que déssemos meia-volta.
Estávamos correndo risco de morte. Sou obrigado a
admitir que o motorista e o fotógrafo se prontificaram de imediato a seguir o
sábio conselho, mas, democraticamente, como chefe da expedição, decidi que
prosseguiríamos. Os argumentos reforçavam a previsão que me fizera iniciar a
viagem: tratava-se de assunto quente, capaz de render uma boa matéria. E fomos
em frente. O cenário não se
apresentava dos mais auspiciosos. O terreno era ondulado e pedregoso.
Impossível velocidade acima de 20/30 quilômetros. Mata fechada dos dois lados
não permitia manobra rápida de fuga. Não uma estrada propriamente dita, apenas
uma trilha rústica. Avançávamos tensos. Subitamente, uma árvore atravessada. O
motorista foi rápido na dedução: não dava para continuar. O fotógrafo deu-lhe
plena razão. Ainda hesitei, mas não havia alternativa: eu iria prosseguir. Meus valorosos
companheiros olharam para os lados atrás de algum passarinho ou flor perdida
assim que comuniquei minha decisão. Senti que estavam querendo me dizer algo.
Abri a porta e comecei a lenta e temerosa caminhada. Vencida a tora robusta e
alguns metros adiante, o povoado se apresentava com duas pequenas ruas
delimitadas por casas de barro e pau a pique, cobertas por folhas de babaçu. Tudo deserto.
Fui devagar, o coração batendo mais forte do que diante da onça. Quando estava
na metade da rua começaram a sair pessoas do mato, muitas. Tinham visto o carro
com a marca do jornal e sentiram que era a sua grande oportunidade: um
jornalista naqueles confins era uma bênção dos céus. Logo estávamos reunidos,
as lideranças e eu, já agora com a presença do fotógrafo, para conversarmos
sobre o drama de São Pedro da Água Branca. Jackson de
Mendonça tinha vendido toda a área, que era de terras devolutas. Só receberia o
pagamento se “limpasse” o terreno, o que exigiria expulsar os posseiros do
povoado. Os moradores souberam que o grileiro, à frente de um destacamento da
Polícia Militar do Pará, iria atacar em tal dia. Trataram de mandar um
emissário a Imperatriz com uma versão utilitária da história: eram os paraenses
tomando terras dos maranhenses. As lideranças do
Maranhão se mobilizaram rapidamente. Quando Mendonça e a PM paraense chegaram,
foram realmente recebidos a bala. Não pelos moradores: pela PM do Estado
vizinho. Elas não estavam ali para dar cobertura a posseiros contra um
proprietário, mas para defender maranhenses ameaçados de violência por
paraenses. Foi bala de PM contra bala de PM. No meio da gente que saiu do mato,
onde se mantinha em atitude de defesa contra novo ataque, havia PMs armados de
velhas metralhadoras Ina. Um deles, à frente de um grupo de posseiros, me levou
para ver a área toda pretendida pelo grileiro, como mostra a outra foto. Sem tiros Voltei com a
incrível história. Rendeu foto na primeira página de O Estado de S. Paulo e
duas páginas internas, espaço semelhante reservado ao assunto em O Liberal.
Lendo a reportagem, o representante em Belém da Comissão de Financiamento à
Produção do Ministério da Agricultura me ligou para dizer que ia comprar a
produção de arroz do povoado, que teria renda para se consolidar e resistir ao
grileiro e ao SNI, o que de fato aconteceu. Os arapongas
tentaram no ano seguinte afastar a CFP, mas o diretor, que era um técnico
honesto e competente, em plena ditadura, me fez a denúncia e a ecoei pela
imprensa. O SNI recuou e a safra foi comercializada pelo preço mínimo oficial.
Hoje, São Pedro da Água Branca é uma cidade consolidada à margem da maior
ferrovia de carga do mundo, a de Carajás. A linha corta o município, que tem 12
mil habitantes, por 47 quilômetros. Sem os tiros do
grileiro, São Pedro agora ouve o apito do trem. Fonte: Lúcio Flávio Pinto Link da pagina |