Para descobrir como animais e plantas vão se virar diante do desafio do  aquecimento global, cientistas do Inpa (Instituto Nacional de Pesquisas  da Amazônia) vão recriar artificialmente o ambiente aquático amazônico  num clima mais quente. 
A ideia é ter cenários baseados em três projeções do IPCC (painel do  clima da ONU) para 2100, da mais branda à mais catastrófica. 
O projeto, diz seu coordenador, Adalberto Val, diretor do Inpa, é  inédito no mundo. "Muitos pesquisadores olham para os animais terrestres  quando fazem projeções, mas se esquecem da vida aquática", afirma o  biólogo. 
No caso da Amazônia, há mais de 3.000 espécies de peixes conhecidas  --boa parte delas endêmica (ou seja, só existem naquela região). 
Val falou sobre o tema durante a 63ª reunião anual da SBPC (Sociedade  Brasileira para o Progresso da Ciência), que acontece em Goiânia.
FORA D'ÁGUA 
O impacto do aquecimento sobre a vida aquática começa fora d'água. Com a  redução das árvores em volta dos rios (elas podem morrer com o clima  mais quente), a radiação solar que atinge o ambiente aquático aumenta. 
Além disso, os bichos tendem a nadar mais superficialmente para respirar  diante da redução de oxigênio nas águas, que têm aumento de carbono e  ficam mais ácidas com o aquecimento global. 
Mais expostos à luz solar, os peixes correm mais risco de sofrer  mutações por causa da radiação, e isso pode prejudicar sua saúde. 
A ideia do Inpa é avaliar todas essas variáveis nos ambientes artificiais.
"Os cenários não corresponderão exatamente à realidade, mas queremos  investigar se esses animais conseguirão se adaptar às [novas]condições",  afirma ele. 
A hipótese dos cientistas é que os truques para sobreviver ao  aquecimento estão no DNA dos animais desde o período Jurássico, há cerca  de 200 milhões de anos, quando o clima era mais quente. 
Val também lembrou que, diante de condições climáticas adversas, os  peixes tendem a migrar para outros ambientes. Em geral, os que ficam nas  condições mais quentes tendem a ser os peixes ósseos. Os cartilaginosos  (como as arraias) procuram outras águas, menos tépidas. 
Isso traz desequilíbrios ambientais, como disputa acirrada por alimentos.
Hoje, de acordo com Val, há 20 modelos sobre mudanças climáticas que não  consideram a adaptabilidade dos organismos. "Precisamos considerar as  características de cada lugar e olhar especificamente para os peixes."
Fonte: http://www1.folha.uol.com.br/ 

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