Só o PPS votou contra o texto, que agora segue para o Senado
O Marco Civil da Internet foi aprovado na Câmara dos Deputados após três
anos em tramitação. O projeto teve o apoio da maioria dos partidos da
Casa, com exceção do PPS, e foi finalmente ao plenário após o governo
obter o apoio da bancada do PMDB na última semana. Agora, o texto segue
para o Senado Federal, que terá 45 dias para votá-lo. O relator petista
Alessandro Molon (RJ) disse estar confiante em relação à outra Casa,
onde afirma ter ouvido coisas positivas de membros da oposição.
Em relação à neutralidade, no texto aprovado ficou mantido o
entendimento do governo que prevê que o responsável pela transmissão,
comutação ou roteamento tem o dever de tratar de forma isonômica
quaisquer pacotes de dados, sem distinção por conteúdo, origem e
destino. Esse ponto foi um dos principais 'cavalos de batalhas' entre o
Palácio do Planalto e o líder do PMDB na Câmara, Eduardo Cunha (RJ),
desde que a proposta foi encaminhada ao Congresso em 2011.
Na reta final das discussões, o PMDB também retirou todas as sugestões
de alteração no texto apresentado no plenário pelo relator, Alessandro
Molon (PT-RJ). 'Esta não é a Casa do enfrentamento. Discutimos esse
projeto à exaustão. Pelo convencimento, essa Casa tem seu melhor
desempenho', declarou o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves
(PMDB-RN).
Por outro lado, o governo cedeu ao retirar do projeto a previsão de que a
regulamentação da neutralidade fosse feita por meio de decreto. 'O
governo resolveu dialogar', comemorou André Moura (SE), líder do PSC.
Por sugestão de Eduardo Cunha foi eliminada a expressão 'decreto' do
texto e incluído o entendimento de que a normatização ocorrerá de acordo
com o que prevê a Constituição.
O efeito prático disso é mínimo, uma vez que a própria Carta Magna prevê
que as regulamentações são de exclusiva competência da Presidência da
República, para a 'fiel execução das leis'. Ficou estabelecido que a
Presidência terá de ouvir a opinião do Comitê Gestor da Internet e a
Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel) para fazer a
regulamentação.
A proposta aprovada nesta terça também prevê que os provedores de
aplicação de internet (site e redes sociais) somente poderão ser
responsabilizados civilmente por danos decorrentes de conteúdo gerado
por terceiros se, após ordem judicial específica, não tomarem as
providências devidas. O ponto, até esta tarde, era considerado polêmico.
O projeto também estabelece responsabilidades para os provedores em
casos em que um usuário da rede publique imagens com cenas de nudez ou
de atos sexuais de caráter privado. De acordo com o projeto, o provedor
de internet que disponibilize tal conteúdo será responsabilizado pela
violação da intimidade decorrente da divulgação das imagens, sem
autorização de seus participantes, se não retirar o conteúdo do ar após o
recebimento de notificação feita pela pessoa exposta.
Na questão das guardas dos registros de acesso, os deputados definiram
que os provedores de aplicação terão de manter os dados arquivados por
seis meses e os provedores de conexão por pelo menos um ano. De acordo
com a projeto aprovado, a autoridade policial ou o Ministério Público
poderá requerer, entretanto, que os registros de conexão sejam guardados
por prazo superior. A responsabilidade pela manutenção dos dados não
poderá ser transferida a terceiros.
A votação do Marco Civil da Internet ocorreu em meio a uma crise
política entre o Planalto e o PMDB, principal partido da base do governo
no Congresso. A primeira lei sobre internet discutida no País foi o PL
84/99, conhecida como Lei Azeredo por causa do seu então relator no
Senado, Eduardo Azeredo (PSDB-MG). A lei provocou uma mobilização porque
classificava como criminosas algumas condutas cotidianas na internet.
A movimentação fez o Ministério da Justiça apresentar em 2009 o Marco
Civil da Internet, que funcionaria como uma 'constituição' da rede. O
governo escreveu um texto inicial, que foi discutido em um blog por
usuários da web. Entre 2009 e 2010, houve mais de 2 mil contribuições ao
anteprojeto. Dessa consulta pública surgiu um texto final, que ficou
parado por meses até chegar na Câmara. Após as revelações de espionagem
americana sobre o Brasil, a proposta foi colocada sob regime de
urgência.
Fonte: http://estadao.br.msn.com
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