Da Bloomberg News
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Ao contrário das previsões, número de vagas cresceu nos últimos 15 anos
WASHINGTON - Quando a população do estado americano de Washington
votou em 1998 a favor do aumento do salário mínimo e relacioná-lo ao
custo de vida, opositores da ideia alertaram que a medida acabaria
eliminando vagas de emprego. O prognóstico, porém, mostrou-se
equivocado. Nos 15 anos que se seguiram, o salário mínimo estadual
avançou para US$ 9,32 a hora — o maior dos Estados Unidos. Ao mesmo
tempo, o crescimento do emprego continuou a uma média anual de 0,8%, 0,3
ponto percentual acima da média nacional. As folhas de pagamento de
bares e restaurantes, um dos setores apontados pelos críticos como os
mais vulneráveis, expandiram 21%. Já o nível de pobreza ficou atrás da
média nacional por pelo menos sete anos.
O debate está se
repetindo agora em escala nacional, à medida que os democratas,
liderados pelo presidente Barack Obama, pressionam por um aumento do
salário mínimo federal — hoje em US$ 7,25 a hora — ao passo que os que
são contra argumentam que o aumento fecharia vagas menos qualificadas,
afetando justamente aqueles a quem se pretende beneficiar. Mesmo que o
alerta se mostre real, o exemplo de Washington revela que quaisquer
efeitos não são grandes o suficiente para atingir duramente o mercado de
trabalho.
— É difícil perceber que o estado de Washington pagou
um alto preço por ter um salário mínimo maior do que o resto do país —
afirmou Gary Burtless, economista da Brookings Institution e ex-assessor
do Departamento de Trabalho.
Custos e benefícios
O
aumento do salário mínimo federal para US$ 10,10 a hora, como pretende
Obama, reduziria o índice de desemprego nacional em cerca de 500 vagas,
ou cerca de 0,3%, de acordo com um relatório do Escritório de Orçamento
do Congresso (CBO, em inglês), publicado no mês passado. Ao mesmo tempo,
o aumento iria tirar 900 mil pessoas da linha da pobreza e somar US$ 31
bilhões aos ganhos dos assalariados americanos com menor renda, mostrou
o estudo.
Enquanto o debate persiste sobre o efeito no nível de
desemprego, a presidente do Federal Reserve (Fed, o banco central
americano), Janet Yellen, afirmou em sua sabatina no Comitê de Bancos do
Senado, em 18 de fevereiro, que “o CBO está tão qualificado para
avaliar essa literatura (sobre o impacto do salário mínimo no emprego), e
eu não duvidaria de sua conclusão”.
Olhando para efeitos além do
emprego, o aumento do salário mínimo para US$ 10,10 também reduziria os
gastos com os tíquetes alimentação (os chamados food stamps) em cerca
de 6%, ou o equivalente a quase US$ 4,6 bilhões por ano, segundo um
relatório divulgado nesta quarta-feira pelo Centro pelo Progresso
Americano. A firma de pesquisa, com sede em Washington e fundada pelo
assessor econômico de Obama John Podesta, divulgou seu relatório no
mesmo momento em que o presidente americano reiterava sua proposta de
elevação do salário mínimo.
Disputa política
Em
novembro de 1998, os eleitores de Washington aprovaram o aumento do
salário mínimo estadual em duas etapas, para US$ 6,50. Além relacionou
os reajustes anuais a mudanças na inflação medida pelo índice de preços
ao consumidor. Grupos representativos de varejistas, restaurantes e
hotéis se opuseram à elevação do mínimo. No entanto, o nível de emprego
nesses setores no estado de Washington cresceu desde então, revelam
números do Departamento do Trabalho.
Uma possível explicação é
que os setores econômicos têm várias formas, além do corte de vagas,
para absorver os custos de um aumento do salário mínimo, de acordo com
Arindrajit Dube, economista da Universidade de Massachussetts, em
Amherst, cuja pesquisa não apontou qualquer efeito significativo no
nível de emprego. Aumento de preços, reduções da margem de lucro e
redução do volume de negócios podem ajudar a amenizar o choque do
aumento.
— Quando se coloca todos esses fatores juntos, vem a
descoberta de que não é surpreendente que aumentos moderados do salário
mínimo não tenham muito impacto no emprego — afirma Dube.
Mas nem
todos concordam com esse argumento. As legislações de salário mínimo
não apenas reduzem oportunidades de emprego e ganhos para o trabalhador
de baixa renda, como também reduzem a demanda por seu trabalho, à medida
que ele é substituído por outras formas de capital, de acordo com
pesquisa publicada em 2008 por David Neumark, economista da Universidade
da Califórnia, em Irvine, e William Wascher, economista do Conselho de
Governadores do Federal Reserve (Fomc, em inglês), em Washington.
A
lei do salário mínimo tem a oposição de grupos de negócios tais como a
Federação Nacional de Varejistas, além de vários líderes republicanos,
inclusive o presidente da Câmara dos Representantes e líder do partido,
John Boehner, de Ohio. No Senado, que é controlado pelos democratas, o
líder da maioria, Harry Reid, de Nevada, adiou em 25 de fevereiro uma
votação da matéria, um dos pontos-chave da campanha democrata que foca
na desigualdade de renda. O adiamento até que os senadores retornem do
recesso de uma semana em 24 de março dá tempo aos sindicatos mais tempo
para organizar o apoio à proposta, afirmou uma fonte ligada ao líder
democrata.
Fonte: oglobo.globo.com e Google IMAGENS
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